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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Frango Xadrez

Minha culinária diária não vai muito além de miojos, bifes empanados que minha mãe prepara mensalmente e congela (sim, sou mimadinho pela mamãe), salsicha, ovo, e os mais diversos tipos de comidas congeladas. Logo, quando eu resolvi fazer um jantar especial para meu namorado no dia em que completamos três meses (o que para mim é quase um recorde) já sabia que não seria fácil. A escolha do prato não demorou muito: a única comida que eu lembrava já tê-lo ouvido dizer que gostava muito era Frango Xadrez. Recorrendo ao Deus Google, encontrei uma receita que me pareceu bem simples. E pronto, ali começou minha jornada.

Acho que a maioria das pessoas teria enorme facilidade com essa receita. A maioria. Eu não.

Para começar temos o fato de que de todos os ingredientes necessários eu só tinha a água e o sal. Minha cozinha nunca tinha nem conhecido alguns dos ingredientes básicos como azeite, maisena e cebola (não gosto de cebola, sempre substituo por alho; se a receita já levar alho, coloco MAIS alho – crianças, não façam isso em casa, nem sempre funciona). Eu teria que comprar tudo, mesmo tendo pavor de fugir da rotina de compras no supermercado (são muitas opções e variedades de um único tipo de produto, nunca sei qual levar!). E a outra coisa que me atormentava era a idéia de cortar o frango em cubos. Parece algo meio besta para alguém que faz biologia, mas tenho pavor só de pensar em mexer com carne crua: o cheiro, a textura... argh! (Mais tarde me informaram que se eu tivesse pedido para cortarem o frango no supermercado, eles teriam cortado. Obrigado amigos por me informarem só agora).

Como eu realmente queria impressionar meu namorado, fui para o supermercado. Acontece que eu sempre faço compras em um mercado pequeno perto de casa, que no domingo a tarde já estava fechado. Sendo assim, tive que ir para um mais afastado, onde até então eu só tinha ido acompanhado. Nem preciso dizer que me perdi no caminho né? Fiquei alguns minutos andando em círculos (porque eu sou daqueles que volta para casa, mas não pergunta para ninguém da rua) até receber uma luz divina, entrar em uma rua aleatória e me deparar com o supermercado bem na minha cara.

As compras foram uma chuva de dúvidas: como se escolhe um pimentão? Por que o pimentão amarelo é absurdamente mais caro que os outros? O amendoim é com ou sem casca? E antes disso, ONDE ficam os amendoins e o cogumelo? Qual a diferença entre o Shoyu tradicional e o Premium?

No final escolhi os pimentões mais simpáticos visualmente e desisti de entender a diferença de preços, comprei o amendoim sem casca (que estava espalhado pelo supermercado! Tinham alguns no corredor X, outros no Y, outros perto dos frios, outros no caixa... Não entendi essa distribuição até agora). O cogumelo eu não achei e, como eu não gosto de cogumelos, não me dei ao trabalho de perguntar para alguém. A diferença entre os Shoyus permanece um mistério para mim.

Ao final das compras cheguei à seguinte lista de ingredientes:

· 2 colheres de sopa de azeite de oliva

· (2 cebolas) médias cortadas em cubos (usei só uma, ainda não curto cebola)

· 2 dentes de alho esmagados (como minhas experiências anteriores com dentes de alho deixaram minha mão fedendo para sempre, usei daquele alho que já vem picado dentro de um potinho)

· 500 g de file de frango sem pele cortado em cubos

· Sal a gosto (odeio a pessoa que acha que escrever “A GOSTO” em uma receita passa alguma informação para alguém que não tem experiências culinárias)

· 1 pimentão verde cortado em cubos

· 1 pimentão vermelho cortado em cubos

· 1 pimentão amarelo cortado em cubos

· 1 xícara de cha de cogumelos em conserva cortados ao meio (eliminado)

· 1/4 de xícara de molho shoyu (como xícara não existe na minha kitnet, foi ¼ de copo de requeijão mesmo)

· 1 colher de sopa de maisena

· ½ xícara de cha de água

· 2 colheres de sopa de amendoim torrado (na verdade eu nem medi, só fui jogando. Adoro amendoim!)

Voltando do supermercado, passei na república dos meus amigos para emprestar uma faca de cortar carne. Tendo em mente que eu nunca precisei de uma antes, nunca tinha passado pela minha cabeça comprar uma. Chegando em casa, já era hora de começar a cozinhar. Eu queria surpreender meu namorado, que havia viajado no final de semana para a casa dos pais e estaria de volta em poucas horas.

Primeiro o mais difícil: cortar o frango. Eu demorei bastante para dominar a situação, mas, após algum tempo e ajuda dos amigos no MSN, eu peguei o jeito. Ao final, percebi que 500g não é tanto frango quanto eu achei que fosse. Os pedaços ficaram totalmente irregulares, mas isso não fez diferença no final. Depois disso, cortar os pimentões e a cebola foi fácil (achei divertido constatar que cebolas realmente nos fazem chorar).

Estando tudo pronto, segui para o “Modo de Preparo”:

· Em uma frigideira ou panela grande, misture a metade do azeite de oliva, a cebola, o alho e deixe fritar

· Retire e coloque em um prato

Realizado quase sem problemas. O alho deu uma queimadinha no fundo da panela, mas bem pouco.

· Na mesma panela, coloque o sal, o restante do azeite e frite os pimentões e os cogumelos por 5 minutos

· Tire e coloque em outro prato

Estava tudo perfeito, até que na hora de tirar do fogo eu me dei conta que tinha esquecido do sal. Coloquei um tanto X de sal, completamente na sorte (maldito “a gosto”! como eu vou saber se está bom de sal se só tem pimentão na panela?). Isso fez com que o pimentão soltasse mais água, então creio que seja algo importante nessa etapa. Deixei mais tempo no fogo e quando a água secou novamente eu continuei com a receita.

· Ainda na mesma panela, coloque o frango e frite até dourar

Essa parte foi complicada. O frango começou a soltar muita água e cozinhar, então eu comecei a me perguntar se para fritar até dourar eu teria que tirar a água. Levei tanto tempo para chegar a uma conclusão que a água secou e decidiu por mim. O frango deu uma dourada meio leve, mas o alho, presente na panela desde a primeira etapa, junto com algumas coisas que se juntaram a ele no caminho, estava muito queimado. Fiquei preocupado que isso pudesse passar o gosto para o frango, então já fui para a próxima etapa.

· Coloque todos os ingredientes novamente na frigideira, misture bem com uma colher de pau e refogue por mais 2 minutos

· Em uma xícara, misture o molho shoyu, a maisena e a água

· Mexa bem e junte a mistura de frango

Essa parte ocorreu totalmente sem problemas e nessa hora eu já estava dando pulos de alegria por estar quase atingindo meu objetivo com sucesso.

· Cozinhe mexendo constantemente ate formar um molho espesso

· Coloque em uma travessa e polvilhe com amendoim

E finalmente, estava concluído meu frango xadrez! E nesse exato momento meu namorado chegou, timing perfeito. Ele amou a surpresa e disse que meu frango ficou melhor até que o da mãe dele (ele provavelmente mentiu, mas prefiro acreditar). Mas o frango realmente ficou muito bom! Eu não achei que daria tão certo com toda a minha inaptidão. Mas nunca acreditem no número de porções da receita que os sites informam. Eles tomam como base modelos ou crianças recém-desmamadas. Essa receita rendeu três (consideráveis) porções.

Pretendo fazê-la novamente um dia desses, se eu realmente conseguir comprar o frango já cortado.

domingo, 19 de setembro de 2010

Porção de alcatra com vinho e mel

Gostaria de compartilhar um episódio que aconteceu na última sexta-feira. Alguns também podem entender como uma receita... Mas que fique claro: Quando meus episódios de culinária intuitiva se manifestam, não são simples receitas de pratos. São receitas de filosofia e comportamento.

Como era sexta e eu já tinha terminado todo o trabalho da semana, naturalmente eu comecei a tomar algumas cervejas durante a tarde, enquanto limpava a casa. De repente me dei conta que a casa estava limpa e eu estava bêbado... Então resolvi dar uma festa com amigos. Depois de esvaziar outras cervejas, um martini e vinho, nos demos conta de que o Torcida de Churrasco não seguraria o estômago da galera. Aí eu resolvi abrir a geladeira...

Por sorte, encontrei alcatra (que pela graça dos deuses já estava fatiada). A mesa já estava no quintal, as cartas de baralho já estavam espalhadas (e sujas de cerveja, naturalmente), então o que estava faltando ali, óbvio, era uma PORÇÃO!

Cortei as fatias em tiras, deixei num prato e permiti que o vinho tomasse conta do meu cérebro. Piquei cebola (perdoem-me aqueles que não gostam de cebola... APRENDAM A GOSTAR. Cebola é fundamental, e ainda faz bem para a circulação e o coração... O que é importante para nós, alcoólatras e fumantes). Quando ia procurar um tempero pronto, os antigos espíritos do mal me fizeram olhar para um pote de mel recém comprado. Mel de laranja (uma delícia), que eu só havia comido com sorvete até então.

Coloquei um pouco de óleo, água e vinagre de hortelã na panela, depois joguei uma colher de pau de mel pra dissolver. Em seguida, alecrim, pimenta do reino e um pouquinho de manjericão (nunca abuse do manjericão, principalmente no feijão, pois ele tem um gosto muito forte). Coloquei também um cravo, mas essa parte você pode dispensar, pois foi só pra fazer graça.

Como ainda tinha um pouco de vinho (uns 100 mL) na minha caneca, mandei ele pra panela também. Eu ia ferver, e nós da biologia não temos muito nojinho uns dos outros, mas você pode usar vinho direto da garrafa. Acredito que a saliva das bordas não tenha interferido no resultado final. Aí, como eu não estava preparando uma salada de frutas, coloquei sal e um pouco de shoyu. Pra finalizar, um pouco de gengibre em pó (sou adicto a gengibre).

A essa altura você pode estar se assustando ou achando que eu coloquei tudo o que eu encontrei na frente dentro da panela. Mas não é bem assim. Primeiro porque meu armário é cheio de temperos (então se eu fosse colocar tudo, teria até anis), e segundo porque nesses momentos de culinária intuitiva você tem que ter alguma noção do que está fazendo. Prefira temperos conhecidos, coisas que você já usou em outras receitas e exercite a imaginação com seu paladar. Dois médicos me disseram que sou sinestésico, mas não acho que seja necessário ter um cérebro bagunçado pra entender que vinho vai bem na carne, mas shitake não vai bem com cobertura de morango.

Pois bem. Feito o samba do criolo doido, coloquei a carne pra cozinhar até que ela começou a fritar, então acrescentei a cebola. Nunca coloque a cebola antes, ou ela vai queimar antes da carne! Coloque no final, ou depois (aproveitando o óleo/água que cobram com tempero).

Pra acelerar, dei uma escorrida na água que a carne solta, mas não joguei fora. Depois misturei com farofa pronta e dei uma fritada de leve na mesma panela. Isso vira uns flocos muito gostosos (que são consistentes, e dá até pra comer com palito de dente, como você faria num bar).

Antes de servir, forrei um refratário com pepino em rodelas e pedaços de tomate (até porque havia vegetarianos aqui... e eu teria feito algo mais elaborado se soubesse que ia cozinhar, mas me pegaram desprevenido). Depois coloquei a carne, os flocos e mais um pouco de farofa seca, com um pouco de linhaça (que eu particularmente amo, mas eu recomendaria experimentar antes de usar, porque é ardidinha).

O divertido desses momentos é que, se você está sozinho, é como se estivesse pintando um quadro... Mas depois você come o quadro com gosto, sentindo cada cor deslizando pela goela. Mas, no meu caso, estava com uma galera aqui... Então revezávamos na colher de pau, cigarros, canecas de bebida, enquanto cantávamos músicas sujas aprendidas no Interbio. Alguns diriam que isso é profanar o alimento, mas meus rituais nunca foram convencionais. O sagrado da comida está na alegria e prazer que ela proporciona (antes, durante e depois), então siga seu instinto.

Agora, hora da revisão:

- Alcatra em fatias (pode ser outra carne da sua preferência, mas carne branca não fica tão legal com vinho, pois pega muito o gosto).
- Uma colher bem cheia de mel (não exagere, mel tem gosto forte!)
- Meio copo de vinho tinto
- Três a quatro colheres de vinagre
- Alecrim, manjericão, gengibre e pimenta do reino a gosto
- Um cravo (eu pensei melhor, e acredito que ele tenha sido importante)
- Uma ou duas cebolas cortadas em rodelas
- Farofa pronta (ou caseira, se você tiver o dom)
- Linhaça (se você gostar de linhaça)
- Salada e farofa seca para acompanhar
- Sal!!! E shoyu ou outro tempero salgado (vá experimentando pra ter noção se está bom)

É isso, amigues. E quando terminar, é muito importante dar um nome à sua receita. Se for algo totalmente novo (como esta), você inventa um nome. Se for uma adaptação, você adapta o nome.

Neste caso, batizamos de "Torre de Carne Rainha Elizabeth Primeira" (explicar esse nome levaria outra postagem completa, então deixemos pra lá). Se adaptarem, mudem torre para saguão, Elizabeth Primeira para Vitória, enfim... Algo que faça sentido para o momento =]