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domingo, 19 de setembro de 2010

Porção de alcatra com vinho e mel

Gostaria de compartilhar um episódio que aconteceu na última sexta-feira. Alguns também podem entender como uma receita... Mas que fique claro: Quando meus episódios de culinária intuitiva se manifestam, não são simples receitas de pratos. São receitas de filosofia e comportamento.

Como era sexta e eu já tinha terminado todo o trabalho da semana, naturalmente eu comecei a tomar algumas cervejas durante a tarde, enquanto limpava a casa. De repente me dei conta que a casa estava limpa e eu estava bêbado... Então resolvi dar uma festa com amigos. Depois de esvaziar outras cervejas, um martini e vinho, nos demos conta de que o Torcida de Churrasco não seguraria o estômago da galera. Aí eu resolvi abrir a geladeira...

Por sorte, encontrei alcatra (que pela graça dos deuses já estava fatiada). A mesa já estava no quintal, as cartas de baralho já estavam espalhadas (e sujas de cerveja, naturalmente), então o que estava faltando ali, óbvio, era uma PORÇÃO!

Cortei as fatias em tiras, deixei num prato e permiti que o vinho tomasse conta do meu cérebro. Piquei cebola (perdoem-me aqueles que não gostam de cebola... APRENDAM A GOSTAR. Cebola é fundamental, e ainda faz bem para a circulação e o coração... O que é importante para nós, alcoólatras e fumantes). Quando ia procurar um tempero pronto, os antigos espíritos do mal me fizeram olhar para um pote de mel recém comprado. Mel de laranja (uma delícia), que eu só havia comido com sorvete até então.

Coloquei um pouco de óleo, água e vinagre de hortelã na panela, depois joguei uma colher de pau de mel pra dissolver. Em seguida, alecrim, pimenta do reino e um pouquinho de manjericão (nunca abuse do manjericão, principalmente no feijão, pois ele tem um gosto muito forte). Coloquei também um cravo, mas essa parte você pode dispensar, pois foi só pra fazer graça.

Como ainda tinha um pouco de vinho (uns 100 mL) na minha caneca, mandei ele pra panela também. Eu ia ferver, e nós da biologia não temos muito nojinho uns dos outros, mas você pode usar vinho direto da garrafa. Acredito que a saliva das bordas não tenha interferido no resultado final. Aí, como eu não estava preparando uma salada de frutas, coloquei sal e um pouco de shoyu. Pra finalizar, um pouco de gengibre em pó (sou adicto a gengibre).

A essa altura você pode estar se assustando ou achando que eu coloquei tudo o que eu encontrei na frente dentro da panela. Mas não é bem assim. Primeiro porque meu armário é cheio de temperos (então se eu fosse colocar tudo, teria até anis), e segundo porque nesses momentos de culinária intuitiva você tem que ter alguma noção do que está fazendo. Prefira temperos conhecidos, coisas que você já usou em outras receitas e exercite a imaginação com seu paladar. Dois médicos me disseram que sou sinestésico, mas não acho que seja necessário ter um cérebro bagunçado pra entender que vinho vai bem na carne, mas shitake não vai bem com cobertura de morango.

Pois bem. Feito o samba do criolo doido, coloquei a carne pra cozinhar até que ela começou a fritar, então acrescentei a cebola. Nunca coloque a cebola antes, ou ela vai queimar antes da carne! Coloque no final, ou depois (aproveitando o óleo/água que cobram com tempero).

Pra acelerar, dei uma escorrida na água que a carne solta, mas não joguei fora. Depois misturei com farofa pronta e dei uma fritada de leve na mesma panela. Isso vira uns flocos muito gostosos (que são consistentes, e dá até pra comer com palito de dente, como você faria num bar).

Antes de servir, forrei um refratário com pepino em rodelas e pedaços de tomate (até porque havia vegetarianos aqui... e eu teria feito algo mais elaborado se soubesse que ia cozinhar, mas me pegaram desprevenido). Depois coloquei a carne, os flocos e mais um pouco de farofa seca, com um pouco de linhaça (que eu particularmente amo, mas eu recomendaria experimentar antes de usar, porque é ardidinha).

O divertido desses momentos é que, se você está sozinho, é como se estivesse pintando um quadro... Mas depois você come o quadro com gosto, sentindo cada cor deslizando pela goela. Mas, no meu caso, estava com uma galera aqui... Então revezávamos na colher de pau, cigarros, canecas de bebida, enquanto cantávamos músicas sujas aprendidas no Interbio. Alguns diriam que isso é profanar o alimento, mas meus rituais nunca foram convencionais. O sagrado da comida está na alegria e prazer que ela proporciona (antes, durante e depois), então siga seu instinto.

Agora, hora da revisão:

- Alcatra em fatias (pode ser outra carne da sua preferência, mas carne branca não fica tão legal com vinho, pois pega muito o gosto).
- Uma colher bem cheia de mel (não exagere, mel tem gosto forte!)
- Meio copo de vinho tinto
- Três a quatro colheres de vinagre
- Alecrim, manjericão, gengibre e pimenta do reino a gosto
- Um cravo (eu pensei melhor, e acredito que ele tenha sido importante)
- Uma ou duas cebolas cortadas em rodelas
- Farofa pronta (ou caseira, se você tiver o dom)
- Linhaça (se você gostar de linhaça)
- Salada e farofa seca para acompanhar
- Sal!!! E shoyu ou outro tempero salgado (vá experimentando pra ter noção se está bom)

É isso, amigues. E quando terminar, é muito importante dar um nome à sua receita. Se for algo totalmente novo (como esta), você inventa um nome. Se for uma adaptação, você adapta o nome.

Neste caso, batizamos de "Torre de Carne Rainha Elizabeth Primeira" (explicar esse nome levaria outra postagem completa, então deixemos pra lá). Se adaptarem, mudem torre para saguão, Elizabeth Primeira para Vitória, enfim... Algo que faça sentido para o momento =]

2 comentários:

Edson Bueno de Camargo disse...

Depois que digerir o pernil assado e o ravioli de frango ao molho que comi hoje, vou ler com mais atenção.

.Rol disse...

Hhhmmmmm.... O foda é que ficou MUITO bom. O fundinho adocicado deu um puta toque especial!
Às vezes momentos de inspiração chegam quando estamos bêbados... xD